"O facto de que o amor possa chegar até ao além, que seja possível um
mútuo dar e receber, permanecendo ligados uns aos outros por vínculos de afecto
para além das fronteiras da morte, constituiu uma convicção fundamental do
cristianismo através de todos os séculos e ainda hoje permanece uma experiência
reconfortante. Quem não sentiria a necessidade de fazer chegar aos seus entes
queridos, que já partiram para o além, um sinal de bondade, de gratidão ou
mesmo de pedido de perdão? Aqui levantar-se-ia uma nova questão: se o «
purgatório » consiste simplesmente em ser purificados pelo fogo no encontro com
o Senhor, Juiz e Salvador, como pode então intervir uma terceira pessoa ainda
que particularmente ligada à outra? Ao fazermos esta pergunta, deveremos
dar-nos conta de que nenhum homem é uma mônada fechada em si mesma. As nossas
vidas estão em profunda comunhão entre si; através de numerosas interacções,
estão concatenadas uma com a outra. Ninguém vive só. Ninguém peca sozinho.
Ninguém se salva sozinho. Continuamente entra na minha existência a vida dos
outros: naquilo que penso, digo, faço e realizo. E, vice-versa, a minha vida
entra na dos outros: tanto para o mal como para o bem. Deste modo, a minha
intercessão pelo outro não é de forma alguma uma coisa que lhe é estranha, uma
coisa exterior, nem mesmo após a morte." - Papa Bento XVI
Texto extraído da ENCÍCLICA SPE SALVI